Por Lindomar Freitas de Almeida
Em muitas culturas o pênis é símbolo de poder. Em alguns grupos ele é ostentado, motivo de piadas, contos e lendas. Para muitos homens é uma desgraça quando ele não funciona a contento, na hora ‘H’. Na puberdade e até entre adultos quanto maior o penis proporcionalmente o sujeito se sente macho. E parceiras dadas a não muita reflexão certamente sentia-se/sentem-se atraídas por tal objeto de poder e sedução.
Hoje em dia há até quem prometa exercícios para que o epicentro da sexualidade masculina cresça alguns centímetros. E há quem pague caro por isso. Pois bem, é comum quando nos falta respostas para vazios no Ser encontrar-se compensações deste tipo.
Atualmente alguns objetos adquiriram status semelhante ao do pênis. Um se destaca: os carros. Os machos compram carros compridos, grandes e caros. Assim hiperegoicamente sentem-se vistos, apreciados, sedutores, em suma, mais poderosos. Quando andam pelas estradas e avenidas assumem a postura de ‘donos do pedaço’, competem, ameaçam aqueles carrinhos pequenos, velhos ou baratos (nem vou falar dos pedestres e ciclistas). Assumem posturas hostis e sem gentileza urbana, próprio dos homens das cavernas que provavelmente eram mais homens por causa do tamanho do ‘pinto’. E o pior sempre encontram parceiras e súditos que assim se deixam seduzir.
E os símbolos fálicos ganham perenidade, travestem-se nos vários automóveis com seus barulhos em caixas de sons sob o porta malas, estuprando ouvidos e violentando o bom senso. Outros bem compridos exibem através do tamanho seu poder, outros partem para o esnobismo e há ainda aqueles que agradecem aos céus pelo dom de ter o tal fetiche, como se Deus fosse dono de concessionária.
E quem não reflete, reproduz como modismo, como um processo da normalidade. O banal se instala e junto a tristeza do comum, da normose coletiva. A cada dia ficamos mais incapazes de desbanalizar o banal.