segunda-feira, dezembro 27

"Estou apaixonada vou me casar".

 
Por Lindomar Freitas de Almeida

Estava numa fila de supermercado estes dias próximo ao final de ano. Até chegar ao caixa passa-se por prateleiras de bombons, doces, guloseimas de todos os tipos e muitas revistas. Esta é uma estratégia dos supermercadistas para que nos últimos passos do cliente, antes do pagamento, se leve algo a mais. Meus olhos acompanhavam aquele vale de abundância de comidas, mas, chamou-me atenção a capa de uma revista com uma celebridade estampada em foto e a frase: ‘estou apaixonada vou me casar’.

Ora, todos tem a liberdade de fazer o que querem de suas vidas, casar, descasar, viver, morrer, namorar, ficar só e uma infinidade de outras coisas. Mas, fiquei pensando com meus botões nesta frase, fui dirigindo meu jipe até a praia e a frase me acompanhava.

Apaixonar-se e casamento. Apaixonar-se não é difícil, podemos nos apaixonar até por uma fotografia, podemos nos apaixonar até por alguém que nunca vimos ou que vimos poucas vezes ou por alguém que a primeira vista nossos olhos brilharam e provocou uma sensação, como se borboletas passassem a bater asas no lado esquerdo do peito. Apaixonar-se estar para emoção, o prazer, a identificação, o sexo, a novidade, porque não dizer, para certa dose de loucura. Uma loucura que nos faz sentir vivos é verdade. Apaixonar-se e namorar é uma das mais belas experiências humanas, certamente.

Agora casamento é outra estória. Disse certa vez alguém: ‘O casamento põe fim a breves loucuras’. Casar significa morar junto, dormir juntos, construir casa juntos, partilhar estórias pessoais (dores, alegrias, dúvidas, risos, angústias...) e cumplicidades que com o tempo imperfeições, incompreensões se revelam por conta da intimidade própria deste tipo de vínculo. Então é próprio deste envolvimento, com o passar do tempo, os ideais revelarem-se mais próximos da realidade (surgindo a partir daí as crises). Caso os dois não tiverem um razoável aperfeiçoamento pessoal, acaba o casamento ou vive-se uma relação conturbada ou em função de filhos, da religião, dos outros ou de instituições.

Um homem e uma mulher muitas vezes se casam porque vêem no outro uma fonte de satisfação. Um encontro que momentaneamente faz desaparecer o que todos somos, também, no íntimo: confusos, sozinhos e embaraçados. Como muitas vezes, inconscientemente, não sabemos o que fazer conosco mesmos nos unimos. No fundo um pavor da solidão. Que pode continuar mesmo depois de juntos, ou seja, pode passar a ser duas solidões.

Por isso, o autoconhecimento, uma cultura psíquica é necessária, fundamental  hoje, no mundo pós-moderno, para alguém que deseje se casar. Então dizer: ‘estou apaixonada vou me casar’, dita assim simplesmente, é válida enquanto livre arbítrio a que cada pessoa tem direito, porém, não é condição sine qua non. Ficar apaixonada não garante, absolutamente, que alguém será bem sucedida ao casar-se. Isto tem muito de ilusão ou tolice.  Está apaixonada? Ótimo, então namore bastante.

É da natureza da paixão diminuir e até acabar. Claro, pode-se apaixonar de novo pela mesma pessoa, mas, não como no começo da relação. Então se pouco se conhece sobre a natureza do amor, da paixão, do ser homem, do ser mulher e depois sobre a educação de filhos, construção de família baseado no diálogo e escuta, como pode se pensar em casamento (no sentido coloquial de relação durável, estável e estruturação familiar)?  “Estou apaixonada vou me casar” é uma expressão tão frágil, quanto a relação que se pretenda construir baseada numa atração sentimental por si só.

quarta-feira, dezembro 22

Uma inspiração para o Natal: Nicola Winton




Por Lindomar Freitas de Almeida

Não há dúvida que Nicola Winton incorpora em si o que disse certa vez Gandhi: "minha mensagem é minha vida."A vida de Nicola não pode passar desconhecida, as escolas desde cedo deviam exibir em vídeo sua biografia e o que fez pelas crianças de seu continente em guerra.

Homem simples senão fosse sua esposa não teríamos acesso a este arquivo. Ele desperta a 'imagem de bondade' presente em nós e que mora no avesso de nosso coração. Ele escancara o arquétipo do Homem Bom.

Todos possuímos sentimento de bondade: choramos, temos desejo de ajudar, por exemplo, diante de cenas de dor, miséria e sofrimento. Muitas vezes confundimos este sentimento de bondade com a Bondade (fruto do esforço). Não há dúvida que mostrar sentimentos de bondade seja um sinal de humanidade. Mas, é sinal, predisposição. Tornar-se BONDADE REAL é outra história.

Nicola Winton é um homem de nosso tempo, creio que ainda esteja vivo, despertou sua 'imagem de  bondade', foi além do sentimento. Fez acontecer a BONDADE REAL, filha do esforço.

Depois de amanhã já é, mais uma vez, comemorado o Natal. Eu particularmente não me encanto com o consumo típico da época. E o sentido mesmo deste período vejo em gestos como o de Nicola Winton: uma assombrosa comunhão com o outro, mesmo este outro sendo fonte de identidade e de diferença, desperta em si mesmo a grandeza do Mistério. Mistério paradoxal que mistura nossas fraquezas e fortalezas, nosso lado humano e além-do-humano.

Um Natal com a disposição de despertar a 'imagem de bondade' existente em cada um de nós. Desejo a todos.

Rato e relações.

Por Lindomar Almeida Renato está desempregado e fica em casa. Jandira sustenta a família nestes meses duros. Renato percebe qu...