Por Lindomar Freitas de Almeida
Estava numa fila de supermercado estes dias próximo ao final de ano. Até chegar ao caixa passa-se por prateleiras de bombons, doces, guloseimas de todos os tipos e muitas revistas. Esta é uma estratégia dos supermercadistas para que nos últimos passos do cliente, antes do pagamento, se leve algo a mais. Meus olhos acompanhavam aquele vale de abundância de comidas, mas, chamou-me atenção a capa de uma revista com uma celebridade estampada em foto e a frase: ‘estou apaixonada vou me casar’.
Ora, todos tem a liberdade de fazer o que querem de suas vidas, casar, descasar, viver, morrer, namorar, ficar só e uma infinidade de outras coisas. Mas, fiquei pensando com meus botões nesta frase, fui dirigindo meu jipe até a praia e a frase me acompanhava.
Apaixonar-se e casamento. Apaixonar-se não é difícil, podemos nos apaixonar até por uma fotografia, podemos nos apaixonar até por alguém que nunca vimos ou que vimos poucas vezes ou por alguém que a primeira vista nossos olhos brilharam e provocou uma sensação, como se borboletas passassem a bater asas no lado esquerdo do peito. Apaixonar-se estar para emoção, o prazer, a identificação, o sexo, a novidade, porque não dizer, para certa dose de loucura. Uma loucura que nos faz sentir vivos é verdade. Apaixonar-se e namorar é uma das mais belas experiências humanas, certamente.
Agora casamento é outra estória. Disse certa vez alguém: ‘O casamento põe fim a breves loucuras’. Casar significa morar junto, dormir juntos, construir casa juntos, partilhar estórias pessoais (dores, alegrias, dúvidas, risos, angústias...) e cumplicidades que com o tempo imperfeições, incompreensões se revelam por conta da intimidade própria deste tipo de vínculo. Então é próprio deste envolvimento, com o passar do tempo, os ideais revelarem-se mais próximos da realidade (surgindo a partir daí as crises). Caso os dois não tiverem um razoável aperfeiçoamento pessoal, acaba o casamento ou vive-se uma relação conturbada ou em função de filhos, da religião, dos outros ou de instituições.
Um homem e uma mulher muitas vezes se casam porque vêem no outro uma fonte de satisfação. Um encontro que momentaneamente faz desaparecer o que todos somos, também, no íntimo: confusos, sozinhos e embaraçados. Como muitas vezes, inconscientemente, não sabemos o que fazer conosco mesmos nos unimos. No fundo um pavor da solidão. Que pode continuar mesmo depois de juntos, ou seja, pode passar a ser duas solidões.
Por isso, o autoconhecimento, uma cultura psíquica é necessária, fundamental hoje, no mundo pós-moderno, para alguém que deseje se casar. Então dizer: ‘estou apaixonada vou me casar’, dita assim simplesmente, é válida enquanto livre arbítrio a que cada pessoa tem direito, porém, não é condição sine qua non. Ficar apaixonada não garante, absolutamente, que alguém será bem sucedida ao casar-se. Isto tem muito de ilusão ou tolice. Está apaixonada? Ótimo, então namore bastante.
É da natureza da paixão diminuir e até acabar. Claro, pode-se apaixonar de novo pela mesma pessoa, mas, não como no começo da relação. Então se pouco se conhece sobre a natureza do amor, da paixão, do ser homem, do ser mulher e depois sobre a educação de filhos, construção de família baseado no diálogo e escuta, como pode se pensar em casamento (no sentido coloquial de relação durável, estável e estruturação familiar)? “Estou apaixonada vou me casar” é uma expressão tão frágil, quanto a relação que se pretenda construir baseada numa atração sentimental por si só.