segunda-feira, outubro 15

As extensões do 'eu'.


Por Lindomar Freitas de Almeida

Nem sempre nos damos conta das extensões do nosso eu, geralmente há uma impressão de que nossa referência pessoal reside numa instância dentro de nós e só. Todavia, muito do que somos acontece quando nos relacionamos - surge na relação com o outro (seja este outro pessoas, animais, natureza ou até mesmo objetos sem vida).

O quarto, a gaveta, os objetos pessoais, para ficar por aqui nos exemplos, são defendidos com rigor quando alguém sem permissão invade estes territórios, como se invadissem nosso próprio eu. Outros  chegam as raias do suicídio quando uma paixão vai embora, como se o próprio eu fosse junto. O apego a objetos ou pessoas dão uma boa esticada ao nosso eu, há aqueles que tem um 'euzão' com tantas coisas a administrar que uma velha anedota explica bem o caso, lembrando que, piadas são também um reflexo da angústia do ser humano, rimos daquilo que temos dificuldade em aceitar ou explicar:

"Acidenta-se um automóvel. O condutor surge das ferragens e geme:
- Meu Mercedes...Meu Mercedes...
Alguém diz:
- Mas, senhor... que importa o carro? Não vê que perdeu um braço?
Olhando o coto sangrento, o homem chora:
- Meu Rolex...Meu Rolex!"



quinta-feira, outubro 4

'Pessoas boas'.


Por Lindomar Freitas de Almeida

O garotinho do vizinho está aprendendo a falar e a tudo que tem quatro patas ele diz: 'au, au'. Ele generaliza, mas, à medida que, se desenvolve vai aprender que nem todo bicho de quatro patas é cachorro. Assimilará as especificações de cada coisa.

Infância, criança, adolescência, juventude, vida adulta e velhice. Mesmo passando por todas estas etapas ele não conseguirá entender todas as especificações, todas as sutilezas e matizes que cada ser carrega - seja bicho, seja gente.

Assim nas duas últimas décadas tenho observado as sutilezas e matizes das 'pessoas boas'. E se não me assusto tanto, talvez, porque já não levanto a bandeira das expectativas diante delas. Quando posso aceno para os desavisados, vai com calma em sua identificação meu rapaz!

Dá em cachos o número de reacionários, eugenistas, fascistas, xenófobos... entre as 'pessoas boas'. Inicialmente tem um sorriso no rosto e acolhimento generoso. Mas, escutem suas idéias e o rumo de sua linha de pensamento, observem bem suas práticas de generosidade amalgamadas com (sutil) diminuição do outro, punições ilegais, vinganças e vez por outra festa. Objetivo: gerar confusão de afetos.

Considerável parcela da população desacostumada que é de qualificação de afetos (baixa cultura da escuta no meio familiar) cai como mosca no mel diante dos 'bondosos'. Pode-se dizer, que como o garotinho filho de meu vizinho que diz au, au para todo bicho de quatro patas, alguns sujeitos acreditam em bondade aos primeiros sinais de generosidade.

Pascal (1623 - 1662) há um bocado de tempo alertou: "não há pior forma de maldade do que aquela feita com gestos de bondade".




Rato e relações.

Por Lindomar Almeida Renato está desempregado e fica em casa. Jandira sustenta a família nestes meses duros. Renato percebe qu...